2008/10/27

Desertar-Se

Helena Maria Milheiro - Deserto ( olhares.com)
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Deserto de mim todas as palavras que me impedem e, juntos, vão-se os sentimentos, antes cheios de coragem e expectativas hoje ocas. Deserto as atitudes vãs e guardo na memória algum resto bom. Digo deserto porque, assim como me trouxeram esperanças e um sonho bonito, daqueles que não vemos a hora para dormir, trouxeram também as feridas do tempo e os abismos da alma, cheios de incompreensões e lacunas. E eu, na ânsia por te-los em sua pureza, intactos, não consegui, pois acabaram por mostrarem-se dúbios no seu sentir, tragando-me para um fundo de interrogações e medo.

Desertar-se e não ser um deserto, afinal, ninguém o é, porque ficam as atitudes cravadas na mente e as palavras tatuadas na alma. Temos sim um tanto de pegadas...

Digo deserto porque talvez seja apenas nele, no vazio, sem empecilhos, limites, apenas nós e nós mesmos, é que a vida pode trazer uma nova chuva, regar o broto de um novo sonho e, enfim, encontrar alguma possibilidade para re-começar.

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